A experiência que tenho vivenciado em Conselhos de Administração (CA) em empresas de pequeno e médio porte tem sido bastante surpreendente. A formação acadêmica assim como a maior parte da literatura sobre este tema é voltada a grandes empresas de capital aberto, e a prática nas empresas menores e familiares é completamente diferente, mas os resultados são extraordinários.

Nas grandes organizações o relacionamento entre os conselheiros e os acionistas seguem regras rígidas e é completamente formal, muitas vezes temos a figura de um diretor de Relações Institucionais (RI), que, entre outras, tem a função de fazer a ponte entre os acionistas e os conselheiros. Já nas empresas menores o contato é direto e na maioria dos casos temos acionistas ou investidores participando do conselho.

Tenho percebido que a proximidade entre conselheiros e investidores tem pontos positivos, entre eles:

  1. A assimilação da cultura do investidor pelo conselheiro é mais rápida e assertiva, o que torna as deliberações mais alinhadas entre os dois;
  2. Pelo contato mais direto, o conselheiro adquire a confiança do investidor mais rapidamente, o que, em empresas familiares é fundamental;
  3. Em empresas familiares, o conselheiro tem conhecimentos de situações “extra empresa” que podem auxiliar na redução de conflitos;
  4. Em muitas situações, a pauta da assembleia pode ser antecipadamente discutida com o acionista, agilizando as deliberações.

Em contrapartida do acima exposto, alguns cuidados devem ser tomados pelo conselheiro com o objetivo de evitar alguns problemas do relacionamento mais próximo.

  1. Manter a autonomia nas deliberações, mesmo que existia conflito entre o ponto de vista do investidor;
  2. Manter os princípios de Transparência, Equidade, Responsabilidade Corporativa e Prestação de Contas, na condução de suas atividades em frente ao CA;
  3. Prezar por uma comunicação formal e estruturada com o investidor, pois a proximidade aumenta em muito a informalidade no processo de comunicação, o que poderá causar futuros conflitos;
  4. Evitar que situações pessoais do investidor se reflitam na rotina do CA.

As nuances da gestão de empresas de pequeno e médio porte têm que ser compreendidas e assimiladas pelos conselheiros, o que sem dúvida, requer um perfil de profissional com uma boa capacitação técnica e uma extraordinária capacidade de gerar empatia com investidores.

Como mencionado no início deste artigo, estou expressando minha vivência pessoal como conselheiro e me sinto um privilegiado em testemunhar como a implantação de um processo de Governança Corporativa bem conduzido pode contribuir para a redução de conflitos internos e inseguranças, permitindo que os diretores foquem seus esforços em aumentar a produtividade e que os investidores tenham o retorno esperado, não só financeiro, mas em qualidade de vida.

Até a Próxima.